A insatisfação dos caminhoneiros com o Governo, que tem aumentado a temperatura política e levado a bloqueios de estradas, não tem a ver só com o diesel mais caro.
A origem do mau
humor na boleia é o filho indesejado de um erro de política econômica do
Governo Dilma 1, que criou uma bolha de oferta no frete ao financiar caminhões
novinhos a preços de carrinho de brinquedo.
O engenheiro
Ricardo Gallo, que trabalhou 19 anos no BankBoston e hoje é um gestor
independente, se debruçou sobre os números do setor. Ele comparou a expansão na
oferta de caminhões com o aumento do PIB do setor de transportes nos últimos
anos.
A conclusão: o
crédito barato do BNDES gerou um excesso de oferta de quase 300 mil caminhões —
288 mil, para ser preciso, o que equivale ao número total de caminhões
licenciados no País a cada dois anos.
Foi uma brincadeira
cara. Foi um negócio grosseiro.
Através de um
programa de crédito barato chamado PSI, lançado em 2009, o
BNDES financiava 100% do valor de um caminhão e cobrava juros fixos de 7%
ao ano, a serem pagos em oito anos.
Como a inflação, na
época, rodava a 5,5%, o juro real que o banco cobrava — 1,5% — era um convite
ao crime, incentivando os caminhoneiros (e até quem estava fora do mercado) a
fazer o investimento.
A história
econômica mostra que sempre que um banco central ou Governo faz o custo do
dinheiro ser artificialmente barato, ele estimula investimentos que não
teriam sido feitos sob circunstâncias normais, frequentemente causando bolhas.
Entre o final de
2002 e o de 2014, a frota brasileira de caminhões cresceu de 1,54 milhão de
unidades para 2,588 milhões, ou 4,4% ao ano.
No período entre
2008 e 2014, ajudado pelo PSI, o crescimento foi ainda mais impressionante:
4,9% ao ano.
Mas enquanto o
Governo pisava no acelerador do crédito barato, a economia pisava no freio.
O PIB do setor de
transportes cresceu só 2,4% ao ano entre 2008 e 2014, em grande parte porque
tanto a agricultura quanto a indústria, as maiores demandadoras de frete,
sofriam os efeitos da crise de 2008.
Se a frota nacional
de caminhões tivesse crescido apenas em linha com a desaceleração do PIB do
setor ocorrida a partir de 2008 (ou seja, se o Governo não tivesse oferecido o ‘anabolizante’),
Gallo estima que a expansão da frota teria sido de apenas 3% ao ano, e não os
4,9% observados.
Em outras palavras:
se o Governo tivesse deixado as coisas como estavam, o País provavelmente teria
hoje 2,3 milhões de caminhões, em vez dos 2,588 milhões atuais.
Essa oferta só será
absorvida quando a economia voltar a crescer.
Considerando os
níveis atuais de licenciamento e sucateamento da frota, Gallo projeta que o
excesso ainda será de 250 mil caminhões no fim de 2016, ou seja, o
excesso vai cair só 38 mil caminhões ao longo de dois anos.
O caso da bolha do
frete mostra uma verdade com a qual os economistas lidam no dia a dia, mas que
muitos brasileiros ainda desconhecem.
Para continuar
pedalando a economia e bancar o discurso de que a crise global de 2008 seria
apenas uma ‘marolinha’ no Brasil, o Governo criou uma bolha que saiu cara para
o contribuinte e caríssima para os caminhoneiros, agora que a ‘marolinha’ deu
lugar à enchente de caminhões.
“Essa mentalidade
de que o Estado consegue controlar a economia — seja via preço ou via imposto —
sempre dá nisso,” diz Gallo. “Não há capacidade de planejamento que substitua o
planejamento do mercado.”
“A máquina estatal
pode ser uma Ferrari, mas o Governo sempre vai fazer barbeiragem. E há pouca
diferença entre os partidos. Pode ser que na mão do PT a Ferrari capote mais
vezes, e que talvez o PSDB só jogue o carro na árvore. Mas a solução é diminuir
o tamanho do Estado: em vez de botar uma Ferrari na mão dos políticos, dá pra
eles um Cinquecento! Assim, o PT vai até tentar, mas não vai conseguir capotar,
e se o PSDB meter o carro na árvore, fica barato consertar.”
Por Geraldo Samor
http://veja.abril.com.br/blog/mercados/economia/a-bolha-dos-caminhoes-uma-crise-gerada-em-brasilia/